Menina Chinesa Campeã Mundial de Xadrez aos 16 Anos
A menina chinesa Hou Yifan de 16 anos que se tornou a mais jovem campeã mundial de xadrez ao final do ano passado se diz ‘uma adolescente normal’.
Mas o feito da jovem garota não é nem um pouco normal. Com 14 anos ela já tinha se tornado mestre internacional de xadrez, superando até mesmo a marca conseguida pelo seu principal ídolo, o americano Bobby Fischer.
Ela deu uma entrevista ao jornal britânico TeleGraph, na Associação de Xadrez Chinês, em Pequim, onde ela e sua mãe contaram detalhes de sua vida e como conseguiu chegar onde chegou.
Muitos já prevêem que se continuar nesse ritmo de evolução, não vai tardar até que a jovem Hou supere a húngara Judit Polgar, que com 34 anos é a única mulher entre os 100 maiores jogadores do mundo pela FIDE, a federação internacional de xadrez.
Judit Polgar é também considerada prodígio, tendo se tornado grande mestre aos 15 anos, feito já superado pela adolescente chinesa há dois anos quando se tornou mestre aos 14.
No ranking mundial medido por pontos (separado do campeonato mundial) a chinesa Hou, já é a terceira mulher. Todo esse avanço da menina é um reflexo da própria explosão de crescimento da China como nação. Hoje já existem 10 jogadoras chinesas entre as 100 principais jogadoras de xadrez do mundo. Realmente um avanço e tanto considerando que até 2002 não havia nenhuma chinesa entre essa elite do xadrez mundial.
Essa menina, filha de trabalhadores humildes da China, tem se esforçado bastante em busca de seus sonhos como jogadora de xadrez. Sua mãe, uma enfermeira de 42 anos, conta que embora não fossem completamente pobres, também não eram ricos e criaram a filha com dedicação buscando desenvolvê-la naquilo que demonstrava talento.
"Não havia nenhum grande sonho ou grande plano para ela. Mas um dia, quando Yifan tinha cerca de 5 anos de idade, um dos filhos de um vizinho lhe ensinou a jogar damas. Depois de ter sido ensinada apenas uma vez ela já passou a vencer facilmente outras crianças mais velhas.
Por isso decidimos focar seu aprendizado em jogos de tabuleiro.
Nós a levávamos a um clube local de jogos, mas ela sempre demonstrou fascínio nas peças ocidentais, como cavalos e castelos, por isso decidimos que o xadrez era o melhor para ela. Naquela época o objetivo era apenas a ampliação de sua mente, ajudá-la em sua educação, nós nunca sonhamos ter chegado tão longe. " contou Sra. Wang ao Telegraph.
Aos sete anos, sua mãe passou a dedicar-se ainda mais ao seu aprendizado.
Para conseguir tempo,o ela teve que fazer muita hora extra noturna para compensar as horas em que ficava em casa com a filha. A essa altura, a menina já tinha ido além do que o clube de xadrez local poderia lhe ensinar. A família que morava em Xingua, mudou-se então para a cidade de Shandong para ficar mais próxima de um clube maior de xadrez que inclusive passou a ajudá-los financeiramente além de proporcionar um treinamento mais profissional à criança.
A rotina de Hou passou a ser 5 a 6 horas de xadrez por dia, não sem antes ter terminar todas as tarefas normais da escola.
"Eu tinha muito interesse no jogo, uma paixão por assim dizer, isso significa que eu jamais me aborrecia com a rotina. Nunca desisti de jogar. Acho que é isso que me ajudou a ter sucesso. Sempre quis continuar jogando para continuar aprendendo cada vez mais ", acrescentou ela.
Perguntada sobre se rigor na educação dada por seus pais, ela disse que não, que a dedicação e expectativa de seus pais podem ser consideradas normais na cultura chinesa, sendo que no seu caso a diferença foi ter obtido sucesso.
"Meus pais sempre me deixaram escolher o que eu queria, mas eles disseram que se eu quisesse jogar xadrez, então eu deveria focá-lo completamente. Eu tenho também meus outros estudos e ainda tenho algum tempo para fazer outras coisas, como natação, ouvir música e ler livros. Gosto de ler. Eu recentemente acabei de ler Oliver Twist como atividade para meu aprendizado de inglês. É um excelente livro."
Apesar do prêmio de 60 mil dólares ganhos pela conquista do campeonato mundial e do governo da cidade de Shandong ter prometido comprar uma nova casa para sua família, Hou diz que não joga por dinheiro, mas para vencer.
"Metade do dinheiro ganho foi para a federação de xadrez, e uma parte foi para os impostos. Mas de qualquer forma eu tenho tudo que peço aos meus pais. Se eu precisar de algo é só pedir. Após o campeonato mundial, eu pedi um computador novo e mais rápido porque o meu antigo era muito lento para os bons programas de xadrez. " disse ela.
O destino de Hou passou realmente a mudar quando ela aos nove anos de idade disputou uma partida com o grande mestre chinês Ye Jiangchuan. É ele quem seleciona jogadores talentosos pelo país. Jiangchuan jogou contra ela e percebeu o talento da menina que o envolveu durante a partida principalmente quando ele fez algumas jogadas consideradas fracas.
"Ela tinha sabedoria além da sua idade. Apesar de precoce, é uma jogadora agressiva e destemida. Ficou claro para mim que ela tinha um talento muito raro."
Ele levou-a a estudar na Associação Chinesa de Xadrez, em Pequim, sob sua responsabilidade, onde ela estuda e aprimora seu potencial que segundo especialistas ainda pode evoluir muito.
Ele levou-a a estudar na Associação Chinesa de Xadrez, em Pequim, sob sua responsabilidade, onde ela estuda e aprimora seu potencial que segundo especialistas ainda pode evoluir muito.
Ye, seu treinador, admite que tradicionalmente as mulheres não conseguem superar os homens no xadrez, porque esse é um jogo de tática e estratégia militar, própria do mundo masculino. Mas que com a vontade de ganhar e agressividade no jogo demonstrada por Hou, ela poderá superar até mesmo os melhores jogadores.
Mas Hou se mostra humilde ao ser perguntada sobre essas ambições: “Acho que tenho que manter o trabalho e seguir os conselhos de meus pais além de jogar xadrez e deixar a natureza seguir seu curso. Foi assim que eu consegui minha posição atual.” afirmou ela.
Se um dia a jovem Hou vai conseguir superar os grandes mestres internacionais de xadrez, só o tempo dirá. O que vale no momento é admirar o talento surpreendente dessa moça meiga que ao jogar xadrez se transforma em praticamente outra pessoa. Sua agressividade no xadrez a transforma momentaneamente numa fera.
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