sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Cura Do Câncer : Anões Podem Ser A Chave


Na foto, Dr. Jaime Guevara-Aguirre e os portadores da síndrome de Laron, no Equador.

Crédito da Foto:Jaime Guevara-Aguirre e “Science Translational Medicine”

O endocrinologista equatoriano Jaime Guevara pesquisa há 22 anos um grupo de anões que são praticamente imunes ao câncer e o diabetes.

O trabalho que ele desenvolve em conjunto com o Dr. Valter Longo, que faz pesquisas sobre o envelhecimento na University of Southern California, resultou em um relatório divulgado esta semana no periódico "Science Translational Medicine" .

Eles revelaram que o defeito no gene que provocou o nanismo em uma população de cerca de 100 pessoas nas montanhas remotas do Equador também os está protegendo contra o câncer e o diabetes.

Durante 22 anos de pesquisa com os portadores da mutação genética conhecida como Síndrome de Laron foi confirmado que nenhum deles teve diabetes e apenas um teve câncer e mesmo assim não foi um câncer letal.

Os portadores da Síndrome de Laron são anões porque a doença bloqueia os receptores do hormônio de crescimento. Existem cerca de 300 pessoas nesta condição no mundo e o grupo de anões do Equador representa cerca de um terço de todos os casos.

A síndrome de Laron foi identificada pela primeira vez pelo cientista israelense Dr. Zvi Laron que observou essa condição em pacientes em Israel e no Leste Europeu.

Tudo indica que os anões portadores de Laron no Equador sejam descentes de um único ancestral em comum, provavelmente de herança judaica que teria fugido da Espanha por causa da Inquisição Espanhola há séculos. Ao longo do tempo esses descentes teriam se tornado católicos e esquecido sua origem. Análises genéticas realizadas em um anão com Laron em Israel mostraram que provavelmente ele é um primo distante dos anões equatorianos.

A grande incidência da Laron nesta região remota e isolada no Equador se deve principalmente a casamentos consangüíneos entre primos em primeiro grau que ocorre entre eles. Alguns casais tem altura normal, mas por possuírem o ambos o gene recessivo terminam tendo filhos com a síndrome.

O estudo realizado pelos cientistas coletaram de outros 1600 parentes com altura normal e que vivem nas mesmas cidades dos anões com Laron. Entre essas pessoas normais houve a ocorrência de cerca de 5% de Diabetes e 17% de câncer apesar de possuírem estilos de vida semelhantes aos anões.

Como parte do estudo realizado, foram misturados componentes do sangue dos anões portadores da síndrome de Laron com células humanas de pessoas normais e descobriram que estes componentes protegem contra o dano nas células e alteram alguns genes que estão relacionados ao prolongamento da vida.

Quando o hormônio de crescimento foi bloqueado em estudos com ratos eles viveram cerca de 40% mais.

Surpreendentemente os portadores da Síndrome de Laron não vivem mais do que seus parentes mais altos principalmente porque teriam mais problemas emocionais relacionados ao seu nanismo. A questão psicológica é importante na medida que muitos terminam morrendo cedo devido ao abuso de substâncias e por sofrerem mais acidentes.

Segundo o Dr. Longo as drogas que inibem o hormônio do crescimento já são encontradas no mercado pois são vendidas para outros propósitos. Nos próximos doze meses ele espera começar testes com drogas em pessoas que tenham uma alta propensão para o desenvolvimento de câncer e diabetes. Se tudo der certo o remédio que prevenirá o câncer e diabetes poderá estar disponível nas farmácias em dez anos.

Quando o Dr. Guevara começou a estudar e tratar esse grupo de anões há vinte anos ele não imaginava o que iria descobrir . Ele percebeu que havia um padrão interessante entre essas pessoas: elas praticamente não tinham câncer e nem diabetes apesar dessa área do Equador ser conhecida por ter uma alta incidência destas doenças.

Em cerca de 135 pessoas com a síndrome que ele conheceu nenhuma morreu de câncer. “Para mim a possibilidade de ser apenas coincidência é praticamente nula porque cada família dessas tem pelo menos de um a três parentes que morreram de câncer” afirmou o doutor.

A habitante mais velha tem cerca de 85 anos de idade, uma longevidade que até pouco tempo era comum entre esses anões. Mas a alimentação moderna dos jovens baseada em fast-foods está fazendo com que eles morram mais cedo principalmente em decorrência das doenças cardíacas. Isso ocorre principalmente porque seus corações pequenos não agüentam muito tempo a alta taxa de gordura e colesterol a que são submetidos atualmente.

Segundos os pesquisadores, o estudo dessa população de anões pode acelerar em 20 anos as pesquisas por novas drogas que previnam o câncer e a diabetes. Isso porque já vinham sendo feito experiências com a inibição do hormônio de crescimento em ratos mas muitas das conclusões com animais muitas vezes não são aplicáveis aos seres humanos.

A ironia disso tudo é que ao bloqueio do crescimento que acontece na síndrome de Laron pode facilmente ter seu efeito revertido se forem aplicadas injeções regulares de hormônio de crescimento antes da adolescência. Mas este tratamento é extremamente caro para essa população pobre do Equador. Algumas indústrias farmacêuticas que já haviam prometido disponibilizar gratuitamente essas drogas ainda nada fizeram.

Disponibilizar logo o remédio para essas pessoas não é nada comparado com a contribuição que eles estão dando para ajudar a desvendar a origem do câncer.

Referência:

http://abcnews.go.com/Health/OnCall/ecuadorean-dwarfs-unlock-cancer-clues/story?id=12940816&page=1

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