sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Descobertas Pessoas Imunes a Raiva na Amazônia

A Raiva é transmitida por morcegos ou animais domésticos infectados e se não tratada é invariavelmente fatal.

Habitantes da região Amazônica do lado peruano podem estar desenvolvendo imunidade a um dos vírus mais  letais do planeta.
(Imagem: sxc.hu)

A raiva (também chamada de hidrofobia) é uma doença infecciosa transmitida pela saliva de animais infectados .  O principais  responsáveis por sua transmissão são os morcegos que se alimentam de sangue. Ao infectarem  animais domésticos, principalmente cães e gato, estes passam a também transmitir a doença. No homem,  a morte é praticamente certa em cerca de uma semana após o aparecimento dos sintomas.
Mas isso parece estar mudando. Cientistas americanos e peruanos encontraram  pessoas que desenvolveram uma imunidade natural à raiva na região amazônica. Eles publicaram o resultado de seus estudos esta semana no periódico The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene.

O trabalho científico realizado pelo Ministério da Saúde do Peru e pelos Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças dos EUA (CDC)  demonstrou que habitantes da região Amazônica expostos ao vírus tiveram um índice de sobrevivência em torno de 11% sem usar nenhuma medicação. 
Para se ter idéia da gravidade da doença, no mundo existem pouquíssimos  casos documentados de sobreviventes à raiva após o início dos sintomas. Um dos raros exemplos é o de uma menina de 8 anos chamada Precious Reynolds, nos Estados Unidos em 2005. Além dela, um menino chamado Marciano Menezes da Silva, sobreviveu à doença em 2009  no Brasil. Ambos ficaram com seqüelas neurológicas devido a ação do vírus.
Os resultados desta pesquisa são “muito surpreendentes, mas convincentes” afirmou Hildegund Ertl, especialista em vacinas no The Wistar Institute da Filadelfia. Esta descoberta contradiz a idéia até então aceita de que a raiva sempre causa a morte pois as pessoas examinadas tem evidências de possuírem anticorpos contra a doença.

Amazônia Peruana

Os pesquisadores desenvolveram seus estudos em dois povoados onde nos últimos 20 anos houve casos fatais de raiva devido a mordidas por  morcegos hematófagos: Truenococha e Santa Marta, ambas localizadas na Amazônia peruana. Os morcegos saem à noite para se alimentar  do sangue de mamíferos preferencialmente  do gado. Mas quando não encontram alimento eles atacam humanos principalmente quando estes estão dormindo. A saliva do animal possui uma substância anestésica que faz com que a vítima não desperte durante a refeição do animal.
Os cientistas realizaram entrevistas com 92 habitantes nesta região que é considerada o "reservatório natural" da doença na América Latina.  Dos casos selecionados,  50 haviam sido mordidas por morcegos.  Foram então colhidas amostras de sangue de 63 delas e em 7 foram detectados anticorpos que neutralizavam o vírus.
Entretanto os cientistas não sabem determinar com certeza se essa capacidade desenvolvida por essas pessoas não se originou devido a exposição ao vírus em quantidades insuficientes para desencadear a doença. No artigo publicado no periódico científico, os pesquisadores informam que  essas descobertas sugerem que o vírus da raiva não é totalmente letal aos humanos.
A Organização Mundial da Saúde estima que o vírus da raiva esteja presente em cerca de 150 países.  Muitos países desenvolvidos já erradicaram a doença na área urbana,  restando apenas alguns focos nas áreas silvestres.Na  Antártida, Japão, Reino Unido , e outras ilhas o vírus é considerado erradicado. Nos Estados Unidos  em média apenas 2 pessoas morrem ao ano em conseqüência  da infecção pelo vírus da raiva. Há cerca de um século eram 100 mortes ao ano.

O principal motivo destes  países terem praticamente erradicado a doença  foi a vacinação em massa de animais domésticos, sobretudo cachorros e gatos.
Mas  em muitos países a raiva ainda é uma sombra terrível causando cerca de 55 mil mortes ao ano apenas na África e Ásia e levando cerca de 15 milhões de pessoas a procurarem tratamento por suspeita de terem sido infectadas.
Os especialistas analisam que na China, nos países da ex-União Soviética, no sul da África e nas Américas Central e do Sul os casos de raiva parecem estar  aumentando.
A recomendação é de que uma pessoa exposta ao vírus seja por mordida de morcego ou algum animal doméstico com raiva deve ser vacinada preventivamente.

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