Seu Gato pode estar lhe deixando louco – O parasita no cérebro
(Jaroslav Flegr, cientista tcheco que afirma que o parasita da toxoplasmose pode controlar nossa mente. Crédito da imagem: Michal Novotný)
O cientista checo Jaroslav Flegr tem feito importantes estudos sobre a possibilidade de que o verme responsável pela toxoplasmose (doença transmitida através das fezes dos gatos) pode afetar o comportamento e até mesmo provocar esquizofrenia em humanos.
Se você acha que essa é apenas mais uma teoria maluca dessas que circulam às pencas pela Internet, preste atenção no que vai ler a seguir pois os argumentos levantados por Jaroslav Flegr são bastante convincentes e vem despertando o interesse de renomados cientistas pelo mundo.
O cientista checo de 63 anos começou suas pesquisas a partir da idéia de que ele mesmo era portador de um parasita no cérebro que poderia estar afetando seu comportamento. O que parecia ser apenas paranóia começou a ganhar embasamento científico a medida que suas pesquisas avançavam. As descobertas de Jaroslav são assustadoras.
Será mesmo possível que parasitas transmitidos por gatos possam se alojar em nosso cérebro e afetar nossos pensamentos a ponto de causarem desde acidentes de trânsito até a esquizofrenia?
As suspeitas deste pesquisador, que a despeito de ter cara de doido possui um respeitável currículo no meio científico, começaram a partir dos anos 1990. Ele começou a suspeitar que um parasita unicelular, o Toxoplasma gondii, da família dos protozoários, estava afetando de forma sutil sua personalidade. Esta seria a causa para seu comportamento estranho e muitas vezes até mesmo auto-destrutivo.
O PARASITA DA TOXOPLASMOSE
O parasita, T. Gondii, excretado pelos gatos através das fezes, é o micróbio causador da toxoplasmose. Desde 1920 sabe-se que se uma mulher grávida é infectada por esse parasita ela pode transmitir a doença para o feto podendo lhe causar danos cerebrais sérios e até mesmo a morte.
O Toxoplasma gondii é ainda mais perigoso para pessoas com imunidade baixa. Esse problema foi detectado sobretudo nos anos iniciais do surgimento da AIDS, quando não existiam bons medicamentos anti-retrovirais. Nessa época o T. gondii foi associado à demência que aflige pacientes de AIDS no estágio final da doença.
Pessoas saudáveis, ao contraírem toxoplasmose costumam ter sintomas semelhantes aos causados pela gripe durante o período que o corpo combate a doença. Segundo a medicina padrão, após esta fase o protozoário fica então dormente dentro das células do cérebro.
Mas contrariando o que se pensava até então, o cientista Jaroslav Flegr, acha que o parasita "latente" pode estar na verdade alterando nossas conexões nervosas tranquilamente, mudando nossa resposta a situações de medo, a nossa confiança nos outros, nossa disposição para sair de casa, e até mesmo a nossa preferência por determinados aromas.
Jaroslav, que é biólogo evolucionário na Universidade Charles, de Praga, chega ao ponto de afimar que o Toxoplasma gondii pode estar matando cerca de 1 milhão de pessoas por ano. E essa estimativa ele faz considerando que o parasita por afetar os reflexos e a sensação de medo, o que pode estar contribuindo para que ocorram certos acidentes automobilísticos e suicídios além de outros distúrbios mentais.
A teoria de Jaroslav não é recente. Faz algumas décadas que ele a formulou. Talvez ela nunca tenha ganho notoriedade principalmente devido a sua dificuldade com a língua inglesa e ao seu estilo fechado que o leva a raramente viajar para participar de conferências científicas.
Além disso, suas idéias pouco convencionais enfrentariam muita crítica. "Há forte resistência psicológica à possibilidade de que o comportamento humano pode ser influenciado por algum parasita estúpido. Ninguém gosta de se sentir como uma marionete. “ declarou ele.
Mas a pouca aceitação de seu trabalho parece estar mudando. Após anos sendo ignorado ele começa a ser respeitado por vários pesquisadores, grandes nomes da neurociência como Robert Stanford Sapolsky, já admitem que os estudos de Jaroslav Flgr são bem conduzidos, e que não há razão para se duvidar deles.
DOMINANDO O COMPORTAMENTO DO HOSPEDEIRO
Estudos recentes de Sapolsky e de outros pesquisadores britânicos sugerem que o parasita é capaz de manobras extraordinárias. Sapolsky, relata em seus estudos que o T. Gondii pode inverter a aversão natural de um rato fazendo-o ao contrário de fugir, terminar se aproximando dos gatos, seu principal predador. E essa transformação surpreendente na cabeça do roedor ocorre porque o parasita reestrutura os circuitos neurológicos nas partes do cérebro que lidam com emoções primitivas como o medo, a ansiedade e a excitação sexual.
O especialista em esquizofrenia, E. Fuller Torrey, que é diretor do Stanley Medical Research Institute, em Maryland declarou recentemente: "Eu admiro Jaroslav por fazer esta pesquisa. Ela não é politicamente correta, no sentido de que muitos laboratórios não estão fazendo isso. Ele fez isso praticamente por conta própria, com muito pouco apoio. Acho que vale a pena considerá-la pois completamente crível. "
Muitos especialistas sabem que o T. gondii não é o único parasita que pode manipular o comportamento. "Meu palpite é que há vários outros exemplos de que isto acontece nos mamíferos, com parasitas que nunca sequer ouvimos falar" diz Sapolsky.
Um exemplo bastante conhecido é o que acontece com o vírus da raiva. Quando ele já afetou bastante o sistema neurológico de um cão, morcego ou outro animal a ponto de já estar quase o matando, ele desencadeia uma fúria no animal ao mesmo tempo que migra do sistema nervoso para as glândulas salivares do hospedeiro. Quando então o animal ataca e morde o vírus é transmitido através de sua saliva para um novo hospedeiro.
Mas a raiva é um caso raro de alteração de comportamento entre os grandes mamíferos provocada por um parasita. Peixes, crustáceos e alguns insetos são as vítimas preferidas desse controle mental. A bióloga comportamental Janice Moore, da Universidade do Colorado afirma que moscas, formigas, lagartas, vespas, e vários outros insetos tem se comportando estranhamente devido a ação de parasitas.
A vespa Polysphincta gutfreundi, por exemplo, se gruda na aranha de uma erta espécie e lhe deposita um pequeno ovo. Posteriormente, uma larva sai do ovo e passa a liberar substâncias químicas que fazem com que a aranha abandone a contrução de teias no padrão espiral. Ela passa a tecer sua teia girando o fio de forma a criar um casulo que vai abrigar a larva até que esta atinja o estágio adulto.
Ainda mais impressionante é que a aranha "possuída" passa a desenhar formas geométricas que servem para camuflar o casulo da vespa protegendo-o de seus predadores naturais.
ESCRAVOS DOS PARASITAS
Há cerca de 30 anos , Jaroslav se impressionou ao ler num livro do biólogo evolucionista britânico Richard Dawkins a descrição de como um certo verme transforma uma formiga em seu escravo, alterando seu sistema nervoso. O livro de Dawkins relata que quando a temperatura cai, essa espécie de formiga normalmente procura se abrigar no subsolo. Mas quando ela é infectada pelo tal verme ao invés de descer, ela sobe para o topo das folhas de grama e fica lá em cima dependurada por suas mandíbula. Assim ela fica exposta à alimentação dos carneiros que as ingerem junto com a grama que os alimenta. "Suas mandíbulas ficam travadas nessa posição, então não há nada que a formiga possa fazer a não ser ficar dependurada no ar". As ovelhas ao ingerirem as formigas contaminadas junto com a grama completam o ciclo de vida do verme.
"Foi a primeira vez que eu tive conhecimento sobre este tipo de manipulação, isso causou uma grande impressão em mim", diz Flegr.
Depois de ler o livro Jaroslav Flegr passou a suspeitar que seu comportamento tinha traços de semelhança com o da formiga imprudente. Um exemplo disso, ele conta, é quando ele atravessa uma rua movimentada e os carros buzinam para ele. Em vez de sair correndo do caminho dos veículos ele se mantém calmo. No passado, quando em seu país, a Tchecoeslováquia, era demasiado arriscado falar abertamente de política ele manifestava seu desprezo pelos comunistas sem temer ser preso.
Depois de ler o livro Jaroslav Flegr passou a suspeitar que seu comportamento tinha traços de semelhança com o da formiga imprudente. Um exemplo disso, ele conta, é quando ele atravessa uma rua movimentada e os carros buzinam para ele. Em vez de sair correndo do caminho dos veículos ele se mantém calmo. No passado, quando em seu país, a Tchecoeslováquia, era demasiado arriscado falar abertamente de política ele manifestava seu desprezo pelos comunistas sem temer ser preso.
Quando seus colegas cientistas se apavoraram durante um tiroteio em um conflito no leste da Turquia ele se manteve bastante calmo. Durante esses eventos estranhos ele sempre se questionava sobre o que poderia estar acontecendo com ele.
Em 1990 ele ingressou na Universidade Charles, intituição que é referência mundial na pesquisa envolendo os efeitos da Toxoplasmose no corpo humano. Como a universidade também estava recrutando pessoas para se submeter aos kits de testes para detectar o Toxoplasma gondii, Jaroslav se ofereceu para participar.
Foi então que descobriu que ele era portador do parasita. Para ele esta descoberta era a chave para compreender sua estranha tendência auto-destrutiva.
Jaroslav Flegr então começou a dedicar-se com afinco nos estudos relacionados ao Toxoplasma gongii. De início ele aprendeu que o parasita depois de eliminado pelo gato através das fezes, volta a contaminar outros animais que venham a ingerir o pasto contaminado. O parasita entra então novamente no organismo de animais como roedores, porcos ou outro tipo de gado indo se abrigar no cérebro ou em outros tecidos do corpo.
Já o homem se contamina ao entrar em contato não só com caixas de areia , mas também ao ingerir água contaminada com fezes de gato. Além disso, comer vegetais não lavados, comer carne crua ou mal passada são também outras formas de se contaminar com o parasita da toxoplasmose.
Ele constatou também que os franceses, por sua predileção por bifes mal passados, podem chegar a o índice de 55% da população contaminada. Já os americanos tem o percentual de contamização de 10 a 20%.
Depois de contaminar uma pessoa ou um um animal, o parasita tem que retornar para o gato, que é o único organismo que possui as condições ideais para que ele consiga se reproduzir sexualmente. É aí que segundo a teoria de Jaroslav, o parasita iniciaria a manipulação comportamental do hospedeiro objetivando completar seu ciclo de vida.
CONTROLE DA MENTE
CONTROLE DA MENTE
Alguns cientistas já haviam descoberto um estranho comportamento nos roedores infectados pelo T. Gondii que confirmariam as teorias de Flegr. Esses animais , por serem mais ativos do que os roedores não contaminados, terminam atraindo mais a atenção dos gatos uma vez que os felinos são atraídos instintivamente por objetos de movimentos rápidos. Além disso eles se mostraram menos cautelosos , se expondo mais do que os roedores não infectados.
Flegr considera que o homem , enquanto mamífero, e por compartilhar grande parte do código genético dos ratos pode também estar vulnerável a manipulações comportamentais por parte do parasita.
Ao iniciar sua pesquisa, Flegr contou com uma certa ‘sorte’. Ocorre que de 30 a 40% dos checos tem a forma latente da doença, e assim foi fácil conseguir alunos voluntários para participar.
Ao iniciar sua pesquisa, Flegr contou com uma certa ‘sorte’. Ocorre que de 30 a 40% dos checos tem a forma latente da doença, e assim foi fácil conseguir alunos voluntários para participar.
Ele iniciou testando os reflexos e o tempo de reação dos participantes utilizando um programa de computador que exigia que apertassem um botão ao verem um símbolo na tela.
Os participantes que estavam infectados pelo parasita tiveram tempos de reação menores que os demais.
Flegr também percebeu que as alterações promovidas pelos parasitas no comportamento dessas pessoas eram diferentes para homens e mulheres.
Machos infectados comparados a não infectados eram mais introvertidos, mais desconfiados, e mais indiferentes às opiniões alheias e mais inclinados a ignorar regras.
Já as mulheres infectadas, eram exatamente o contrário: eram mais extrovertidas e mais confiantes do que as não infectadas pelo toxoplasma.
Esses resultados impressionates deixaram Flegr desconfiado de que seus dados estavam errados. Repetiu os testes com outros grupos de pessoas e os resultados se confirmaram: existem muitas diferenças no comportamento de pessoas infectadas e não infectadas pelo T. Gondii.
A explicação para as diferenças de comportamento entre mulheres infectadas comparadas aos homens infectados seria segundo Flegr devido ao fato de que sob tensão emocional, as mulheres procuram consolo através de vínculo social e da educação. Já os homens reagem tornando-se hostis ou anti-sociais.
Ele constatou também que os homens infectados se tornam menos atentos o que pode prejudicar tarefas como dirigir por exemplo. Seus estudos comprovaram que as pessoas infectadas tem 2,5 vezes mais chances de se envolverem em acidentes de trânsito.
Dois outros estudos turcos também associam o Toxoplasma a acidentes de trânsito. Considerando que até um terço das pessoas no mundo podem estar infectadas com o parasita, Flegr estima que este parasita talvez seja responsável por milhares de mortes anualmente. Principalmente se for considerado que as pessoas infectadas (assim como Flegr) são menos propensas a sentirem medo em situações de perigo, o que pode levá-las a imprudências ao dirigir.
ALTERAÇÕES NO ORGANISMO
A essas alturas você pode estar se perguntando: Será que não estou infectado pelo toxoplasma também? Se você como eu, tem gatos em casa, então a suspeita vira uma paranóia. Existem testes específicos para o Toxoplasma que podem ser feitos caso seu médico ache indicado.
Mas uma das questões levantadas aqui é: Será possível identificar se alguém está infectado pelo T. Gondii apenas observando traços de seu comportamento?
Flegr afirma que não. Isso porque as alterações que o parasita causa na personalidade do infectado são bastante sutis.
Uma pessoa introvertida, após ser infectada pelo toxoplasma não vai se tornar subitamente extrovertida. “É impossível de se detectar analisando apenas uma pessoa. No mínimo seria necessário analisar 50 pessoas infectadas e 50 não-infectadas para notar uma diferença estatisticamente significativa. A grande maioria das pessoas não tem idéia do que estão infectadas. " afirmou Jaroslav Flegr.
Mas um dos achados mais intrigantes nas pesquisas de Flegr foram em relação a portadores de esquizofrenia. Estas pessoas apresentam diminuição em certas partes de seu córtex cerebral. Flegr acha que o protozoário pode ser o responsável por isso.
Num artigo que ele desenvolveu com seus colegas da Universidade Charles, incluindo o psiquiatra Jiri Horacek, eles afirmam que em 12 dos 44 pacientes com esquizofrenia submetidos à ressonância magnética, a equipe encontrou redução da massa cinzenta no cérebro. Essa diminuição foi constatada quase que exclusivamente nos pacientes infectados pelo T. gondii.
Horacek, chegou a declarar: "Para mim, isso sugere que o parasita pode desencadear esquizofrenia em pessoas geneticamente suscetíveis."
A pesquisa de Flegr ganha ainda mais força ao considerarmos o trabalho de outros cientistas que apontam para o mesmo sentido.
Joanne Webster, uma parasitologista do Imperial College London constatou algo ainda mais surpreendente em seus estudos com roedores infectados pelo toxoplasma.
Num experimento eles colocaram nos 4 cantos de uma gaiola certos odores. Num dos cantos da jaula de cada rato colocaram o próprio odor do animal, no segundo colocaram água, no terceiro urina de gato, e no último canto colocaram urina de um coelho (animal que não é predador dos ratos)
Diferentemente do que inicialmente pensavam os cientistas, que o parasita reduziria a aversão dos ratos ao odor de gato, na verdade o comportamento dos ratos foi de atração pelo cheiro dos gatos. Eles passaram mais tempo nas áreas tratadas com o cheiro dos gatos, cumprindo uma certa ‘atração fatal’.
DOPAMINA
Acompanhando a evolução desses parasitas nos ratos através de marcadores fluorescentes , a doutora conseguiu identificar que o parasita forma cistos de forma mais abundantes na parte do cérebro que lida com prazer (como o sexo nos humanos) e em outra área que está envolvida no medo e na ansiedade .
Com a ajuda do parasitologista Glenn McConkey, da Universidade de Leeds, eles descobriram que o parasita tem dois genes que permitem desencadear a produção do neurotransmissor dopamina no cérebro do hospedeiro. "Nós nunca deixaremos de nos surpreender com a sofisticação desses parasitas", diz Webster.
Os relatórios das pesquisas de Webster publicados no ano passado criaram um certo alvoroço na comunidade científica. Principalmente devido a suas conclusões sobre como o parasita pode interferir na produção da dopamina no hospedeiro.
A dopamina é uma molécula de envolvida no medo, atenção e no prazer. É sabido que esse neurotransmissor está presente em taxas elevadas em pessoas com esquizofrenia.
O princípio utilizado pelos medicamentos antipsicóticos para acabar com delírios esquizofrênicos é o bloqueio da ação da dopamina.
Mas para Webster isso sugere que o que ela pode estar realmente fazendo é agindo sobre o parasita. Partindo de pesquisas anteriores que já indicavam a interferência desses medicamentos no desenvolvimento do T. Gondii, Webster decidiu aplicar o antipsicótico em ratos recém-infectados para ver como eles reagem.
Esses animais não desenvolveram a esperada ‘atração pelos felinos’ característica dos ratos infectados pelo Toxoplasma gondii. A conclusão é de que as mudanças comportamentais estavam relacionadas ao efeito do medicamento sobre o parasita.
OUTRAS DESCOBERTAS
Em uma outra descoberta realizada no laboratório de Robert Sapolsky, em Stanfor.d, o neurocientista e seus colegas descobriram que T. gondii desconecta circuitos do medo no cérebro, que podem ajudar a explicar por que os ratos infectados perdem a sua aversão ao odor de gato.
A surpreendente pesquisa de Sapolsky, indica que o parasita ao mesmo tempo que é capaz de "sequestrar parte do circuito relacionado à excitação sexual" no rato macho, provavelmente aumentando os níveis de dopamina na parte de processamento de recompensa do cérebro. Assim, quando o animal percebe o cheiro de gato, em vez do centro do medo ficar ativo, como seria esperado em um rato normal, a área que rege o prazer sexual é que se torna ativada. Ou seja, o txoplasma tornaria o odor de gato sexy aos ratos machos.
O neurobiólogo Ajai Vyas, depois de trabalhar com Sapolsky neste estudo, na época como um estudante de pós-doutorado, decidiu inspecionar os testículos de ratos infectados, à procura de sinais de cistos. E ele de fato os encontrou lá, bem como no sêmen dos animais. Quando o rato copula, o protozoários entra no útero da fêmea o que resulta na infecção de 60 por cento de seus filhotes antes de viajar até o cérebro e se reproduzir aumentam a chance de ir terminar dentro da barriga de um gato.
Uma das questões importantes levantadas é: Poderia o parasita da toxoplasmose ser sexualmente transmissível também entre humanos?
Vyas, que agora trabalha na Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, afirma que esta é uma das perguntas que eles pretendem conseguir responder com suas pesquisas.
Os cientistas já descobriram que ratos infectados do sexo masculino, de repente se tornam muito mais atraentes para as fêmeas. "É um efeito muito forte", diz Vyas. "Setenta e cinco por cento das fêmeas preferem ficar com o macho infectado."
PESQUISA PUBLICADA
Flegr só teve um artigo aceito para publicação que, segundo ele, "prova a ‘atração fatal’ felina também nos seres humanos. Ele afirma que homens infectados, gostam mais do cheiro da urina do gato, (ou pelo menos toleram mais) do que os homens não infectados.
Evidenciando que as características da ação do parasita possui diferenças entre os sexos, constatou-se que as mulheres infectadas têm uma resposta inversa. Elas acham o cheiro ainda mais desagradável que as mulheres não contaminadas pelo T. Gondii.
DOENÇAS MENTAIS
O neurocientista Sapolsky acha que a inventividade do parasita na sobrevivência e reprodução da espécie pode até mesmo oferecer-nos algumas vantagens.
Se de alguma forma pudermos descobrir como o toxoplasma consegue atuar sobre o sentimento de medo dos animais , esta descoberta poderia nos ajudar a desenvolver tratamentos para pessoas atormentadas por ansiedade social, fobias, e outra doenças relacionadas.
Já a pesquisadora Webster acha que na grande maioria das pessoas, o parasita não trará muitos efeitos nocivos. As pessoas contaminadas vão demonstrar mudanças sutis de comportamento. Mas, num pequeno número de casos, a infecção pelo Toxo pode estar ligada a esquizofrenia e outros distúrbios associados com níveis de dopamina. Como exemplo poderiam ser citados os transtornos obsessivo-compulsivo, o déficit de atenção e a hiperatividade, além de alterações do humor.
Tem que ser também considerado o fato de que o rato vive de dois a três anos, enquanto os seres humanos podem ser infectados por muitas décadas. Talvez seja esta a razão de estarem causando estes efeitos colaterais graves nas pessoas. A pesquisadora conclui que temos que ser cautelosos em subestimar a ação de um parasita tão comum.
O psiquiatra E. Fuller Torrey concorda, embora veja a questão de um ponto de vista diferente de Webster ou Flegr.
Após décadas de pesquisas sobre as causas da esquizofrenia, ele tem autoridade para falar sobre o assunto.
ESQUIZOFRENIA
"Livros didáticos ainda hoje fazem declarações bobas de que a esquizofrenia tem sido constante, com a mesma taxa de incidência em todo o mundo, e tem existido desde tempos imemoriais".
A literatura epidemiológica contradiz isso completamente:" Na verdade, diz ele, a esquizofrenia não teve um aumento tão siginificante até a segunda metade do século 18, quando as pessoas em Paris e Londres começaram a manter os gatos como animais de estimação.
A moda de ter gato começou entre poetas e artistas vanguardistas de esquerda diz Torrey, mas a tendência se espalhou rapidamente. Coincidentemente com esse aumento a incidência de esquizofrenia também disparou.
Ele observa que desde os anos 50, cerca de 70 estudos epidemiológicos têm explorado a ligação entre a esquizofrenia e o protozoário T. gondii. Ele conta que quando ele e seu colega Robert Yolken, um neurovirologista na Johns Hopkins University, se debruçaram sobre uma parte desses relatórios científicos , sua conclusão veio complementar a descoberta do grupo de Praga: Os pacientes esquizofrênicos com o parasita Toxo tem menos massa cinzenta em seus cérebros.
Ele observa que desde os anos 50, cerca de 70 estudos epidemiológicos têm explorado a ligação entre a esquizofrenia e o protozoário T. gondii. Ele conta que quando ele e seu colega Robert Yolken, um neurovirologista na Johns Hopkins University, se debruçaram sobre uma parte desses relatórios científicos , sua conclusão veio complementar a descoberta do grupo de Praga: Os pacientes esquizofrênicos com o parasita Toxo tem menos massa cinzenta em seus cérebros.
Torrey e Yolken descobriram que a doença mental é de duas a três vezes mais comum em pessoas que têm o parasita comparadas com outras pessoas da mesma região.
Ambos cientistas acreditam que estudos com Genoma Humano apontam também para a mesma direção o que poderia explicar por que a esquizofrenia ocorra em famílias.
Os resultados mais difundidos desta linha de investigação sugere que os genes mais comumente associados com a esquizofrenia são aqueles relacionados ao sistema imunológico e sua capacidade de reagir a agentes infecciosos. Assim, em muitos casos onde a esquizofrenia parece ser de origem hereditária, eles acreditam, o que pode de fato estar de fato sendo transmitida é a deficiência imunólgica a invasores como o parasita T. gondii.
Eles apontam que a caxumba, a rubéola e outros agentes infecciosos, também têm sido associados ao desenvolvimento de esquizofrenia e que acham provável que ainda haja outros gatilhos ainda não identificados, sendo que muitos não têm nada a ver com patógenos.
Mas, por enquanto, dizem eles, o parasita da toxoplasmose permanece o mais forte fator ambiental envolvido na doença. "Se eu tivesse de adivinhar", diz Torrey, "Eu diria que 75 por cento dos casos de esquizofrenia estão associados com agentes infecciosos, e este parasita estaria envolvido em um subconjunto significativo deles."
Torrey também afirma que o parasita pode também aumentar o risco de suicídio. Em um estudo de 2011, em 20 países europeus, a taxa de suicídio nacional entre as mulheres aumentou em proporção direta com a prevalência da infecção latente do parasita Toxo na população feminina de cada país.
O psiquiatra Teodor Postolache, diretor do Programa de Ansiedade e Humor da Escola de Medicina da Universidade de Maryland , relata que vários outros estudos, muitos deles conduzidos por sua própria equipe, dão ainda mais embasamento que sustentam a ligação do protozoário T. gondii com taxas mais elevadas de comportamento suicida.
Estes estudos englobam investigações sobre a população em geral, incluindo grupos constituídos de pacientes com transtorno bipolar, depressão grave e esquizofrenia. Diversos países e regiões forneceram informações, abragendo lugares tão diversos como a Turquia, a Alemanha, e Estados Unidos.
A forma como o parasita consegue fazer alguém extrapolar o limite da preservação da própria vida ainda está para ser determinado.
Postolache acha que essa perturbação no humor e na capacidade de controlar os impulsos violentos pode não ser obra do parasita em si, mas decorrem de alterações neuroquímicas associadas à resposta imune do corpo a ele. Por mais estranha e complicada que essa idéia possa parecer, segundo Postolache, a Fundação Americana para o Combate ao Suicídio pretendia financiar pesquisas nessa área.
TER OU NÃO TER GATOS EM CASA?
As pessoas que tem afinidade com felinos (entre as quais me incluo) diante de todo esse conjunto de informações desagradáveis relacionadas a esse parasita, devem considerar que chegou a hora de se livrar dos bichanos?
O próprio pesquisador Flegr é contrário a essa idéia. Segundo ele, os gatos que vivem dentro de casa não representam uma ameaça, porque eles não carregam o parasita.
Já os gatos que circulam pela rua, eles eliminam o parasita pelas fezes por apenas três semanas de sua vida, geralmente quando são jovens e começam a caçar. Durante esse breve período, Flegr simplesmente recomenda tomar cuidado para manter balcões de cozinha e mesas bem limpas. Ele mesmo pratica o que prega: Ele têm dois filhos em idade escolar, e dois gatos que vivem livre para ir à rua e voltar para dentro de casa.
Ainda mais importante do que se prevenir quanto a exposição ao protozoário t. gondii, segundo ele, é lavar bem os legumes e frutas esfregando-os bem. Além disso é bastante recomendável evitar beber água que não tenha sido purificada, sobretudo em países em desenvolvimento, onde as taxas de infecção em algumas regiões podem chegar a 95%. Deve-se também preferir comer carnes bem passadas ou, ainda, congelá-la antes de cozinhar objetivando matar os cistos.
Mas isso pode não ser suficiente para conter a crescente disseminação desses parasitas pelo mundo. Especialistas já cogitam adotar medidas mais rigorosas. Vacinar gatos ou outros animais contra T. Gondii pode ser uma maneira de interromper o seu ciclo de vida, opina Robert Yolken do Hospital John Hopkins.
O objetivo é ir além da simples prevenção. Uma vez que o parasita torna-se profundamente arraigado nas células cerebrais, tirá-lo do corpo é praticamente impossível: os cistos possuem paredes espessas inexpugnáveis aos antibióticos.
Mas Yolken e outros pesquisadores já parecem ter encontrado um ponto fraco deste parasita. Como o T. gondii e o protozoário da malária estão relacionados os cientistas estão tentando encontrar medicamentos mais eficazes para atacar os cistos.
No momento a medicina não tem nenhum tratamento capaz de fazer com que as pessoas portadoras se livrem da infecção latente. Até que a ciência prove, como alguns cientistas parecem estar fazendo agora, que o Toxo é realmente muito perigoso, as empresas farmacêuticas não têm muito incentivo para desenvolver drogas anti-Toxo.
Yolken é otimista, ele acha que essa realidade vai mudar. "Para explicar o ponto onde se encontra a pesquisa sobre o Toxo hoje, a analogia que eu sempre faço é a da bactéria da úlcera. Primeiro, precisamos encontrar maneiras de tratar o organismo e mostrar que a doença foi embora quando você fez isso. Teremos de mostrar que, quando a infecção do Toxoplasma for tratada eficazmente, pelo menos uma parcela de doença psiquiátrica vai embora. "
CONCLUSÕES
Mas o protozoário T. gondii é apenas um entre um incontável número de agentes infecciosos que nos afligem. Janice Moore da Universidade do Estado do Colorado afirma que muitas outras infecções são capazes de mexer com nossas mentes.
Por exemplo, ela e Chris Reiber, uma antropóloga biomédica da Universidade de Binghamton, em Nova York, tem fortes suspeitas de que o vírus da gripe pode aumentar o nosso desejo de se socializar.
Por quê? Porque ele se espalha através do contato físico íntimo, muitas vezes antes que os sintomas se iniciem, o que significa que ele deve encontrar um novo hospedeiro rapidamente.
Moore e Reiber monitoraram 36 pacientes que receberam vacina contra a gripe. A idéia é que se a vacina contém muitos dos mesmos componentes químicos que o vírus vivo o sistema imunitário da pessoa imunizada deve reagir como se tivessem encontrado realmente o patógeno.
O resultado observado foi que as pessoas que receberam a vacina quase dobraram o número de pessoas com as quais tiveram contato próximo durante a fase em que o vírus é mais contagioso.
As pessoas que tinham vidas sociais simples e recatadas, de repente decidiram que precisavam ir a bares ou festas, ou se reunir com mais pessoas , relatou Reiber.
Reiber acha que outros patógenos humanos podem muito bem estar fazendo jogos semelhantes conosco. Ela afirma que, por exemplo, muitas pessoas nas fases terminais da sífilis e da AIDS expressam intenso desejo sexual. O mesmo ocorreria com pessoas infectadas pela herpes. Com base em suas próprias conclusões, a cientista acha que ela não ficaria surpresa se estes impulsos vêm do patógeno que está na verdade manifestando sua vontade de sobreviver.
A pesquisadora conclui dizendo que "Nós encontramos todos os tipos de desculpas para justificar as coisas que fazemos. Nossos genes são os culpados por fazermos isso ou aquilo. Nossos pais são os culpados. Temo que podemos ter chegado ao ponto em que os parasitas terão que ser adicionados a lista de desculpas que temos para nos justificarmos.”
Imagem: Parasita T. gondii, crédito - Dennis Kunkel Microscropy, Inc. / Visuals Unlimited / Corbis Images
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