Seriam os Corvos tão Inteligentes quanto as Crianças ?
Estudo mostra que alguns corvos são tão inteligentes quanto crianças menores de oito anos.
Uma das fábulas de Esopo conta a história de um corvo que, estando morrendo de sede,encontrou uma jarra com um pouco d’água no fundo e, como não conseguiu alcançá-la com o bico, passou a colocar pedrinhas dentro do jarro. A água então subiu até um ponto em que foi possível ao animal bebê-la.
Até então, essa fábula de Esopo era interpretada como uma lição de moral, onde nos é transmitida a idéia de que as dificuldades da vida aguçam sobremaneira nossa inteligência.
No entanto, estudos recentes evidenciam uma interpretação bem mais direta: Ainteligência dos corvos se assemelha à inteligência dos seres humanos em sua etapa inicial da vida.
Isso ficou evidenciado nos resultados de estudos apresentados pelo professor Nicola Clayton e seus colegas do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Os pesquisadores constataram que os corvos e as crianças menores de oito anos resolvem o problema apresentado na fábula de Esopo com a mesma eficácia: na quinta tentativa.
Em defesa de nossa espécie temos que acrescentar que a partir da idade de oito anos as crianças resolvem o problema na primeira tentativa.
Ao aplicarem outro teste semelhante nos corvos, em que um verme era colocado na água no fundo de um jarro, as aves aplicaram a mesma técnica eficiente de colocar pedras no recipiente. Mas algo realmente intrigante aconteceu quando, ao invés de colocarem água, colocaram serragem no fundo do jarro. O animal parecia saber que colocar pedras no jarro para tentar trazer o verme até em cima não adiantaria nada e nem sequer tentou.
Ficou evidenciado que os corvos não resolvem o problema meramente por tentativa e erro.
Além disso, quando disponibilizaram pedras grandes e pequenas, os corvos escolheramas pedras maiores para ganharem tempo na tarefa. Os animais preferiram também utilizar as pedras de verdade, em vez de blocos de poliestireno colocados juntos às pedras. Os blocos de poliestireno, flutuam na água e seriam de pouco ou nenhuma utilidade para essa função.
Como o Poliestireno não existia na época que Esopo escreveu suas fábulas ou mesmo durante os séculos de evolução dos corvos, a decisão de optar por pedras de verdade corresponde a uma habilidade cognitiva e não seria apenas mero instinto.
Embora os corvos e as crianças pequenas mostrem-se similarmente eficazes na resoluçãode de certos problemas, a forma como eles aprendem parece bastante distinta. Isso pode ser verificado quando os cientistas deste estudo manipularam o teste de forma que a situação apresentada fosse impossível de acontecer no mundo real.Quando isso aconteceu, os corvos não foram capazes de usar a experiência que tiveram para aplicá-la em testes subsequentes. Eles parecem ter uma certa "compreensão" instintiva das leis da física, e as experiências que não se encaixam nessas regras não servem para aumentar os seus conhecimentos.
Já as crianças possuem uma forma mais prática de aprender: o que funciona, funciona, mesmo que ela não compreenda bem por que.
Estudos anteriores sobre a inteligência dos corvos
Uma espécie de corvo que habita a ilha de Nova Caledônia, no Oceano Pacífico, que possui o nome científico de moneduloides Corvus, é capaz de fabricar ferramentas complexas. O animal consegue utilizar galhos, folhas ou até mesmo arames, para construir instrumentos que lhe auxiliem a ter acesso a alimentos.
Segundo o pesquisador argentino Alex Kacelnik, essa espécie de corvo consegue realizar essa proeza "com mais precisão do que um primata". Ele é chefe do Departamento de Ecologia Comportamental da Universidade de Oxford, Reino Unido, e um dos biólogos que mais tem se dedicado a estudar esses animais.
Outro pesquisador, o zoólogo neozelandês Gavin Hunt, em 1996, já havia constatado essas habilidades surpreendentes dessas aves ao pesquisá-las em seu habitat natural, as florestas de uma ilha do arquipélago da Melanésia, no Oceano Pacífico.
Em 2006, cientistas da universidade de Oxford descobriram que esses corvos conseguem demonstrar essas mesmas habilidades quando mantidos também em cativeiro. Eles também conseguiram constatar que em corvos jovens esse comportamento é herdado.
Segundo Kacelnik declarou na época, "Eles mostram uma tendência natural para resolver problemas físicos, utilizando ferramentas". Além disso, esses animais teriam também a capacidade de aprender tanto com outros corvos quanto no contato com seus tratadores humanos. O resultado de suas pesquisas foram publicados na revista Science e Nature.
Num experimento registrado em vídeo, realizado por estes cientistas, é dada uma missão a uma fêmea de nome Betty,criada em cativeiro: ela tem que conseguir pegar comida num lugar de difícil acesso.
No experimento, o alimento foi colocado num pequeno cesto que tinha na parte superior uma alça. O cesto foi colocado na vertical num cilindro de forma que para conseguir obter o alimento o animal teria que puxar o cesto pela alça.
Depois de tentar colocar a cabeça no tubo sem conseguir alcançar a alça, Betty se fixa num pedaço de arame colocado perto pelos pesquisadores. Ela o pega com o bico e tenta introduzi-lo no tubo porém sem conseguir.
Então ela busca um ponto de apoio para uma das pontas do arame e, forçando com o bico, o entorta criando uma espécie de gancho. A ferramenta então é utilizada por ela para puxar a alça e o cesto obtendo o pedaço de carne como recompensa.
Segundo Kacelnik, esses animais "são capazes de conceituar os problemas, de entender em algum nível primitivo, talvez através de uma imagem mental". Ele classificou a habilidade de Betty como "capacidade de inferência lógica" pois o animal,diante de uma situação nova para ela, identifica um problema, cria um plano para solucioná-lo e o executa de forma adequada.
Em alguns casos, ela começou a usar o gancho criado com uma outra função: remover a carne da base onde estava presa.
Em outra experiência, Betty é colocada numa situação em que para acessar o alimento ela precisa usar uma ferramenta que passe por um orifício numa cobertura transparente.
Alguns galhos foram deixados propositalmente perto do animal para testar seu comportamento. Ela pega um dos galhos e tenta colocá-lo no orifício mas então constata que ele é muito grosso. Sem hesitar, ela passa a desbastar o galho com o bico para diminuir seu diâmetro.
Na primeira tentativa ela não consegue pois o galho continua ainda muito grosso.Mas ela então segue desgastando o galho com bico até que consegue fazê-lo ficar no diâmetro correto. Assim que o galho passa pelo buraco ela consegue obter o alimento.
O biólogo argentino chama a atenção para o que classificou como uma‘demonstração de raciocínio matemático na tomada de decisões. Isso foi fundamental para que o animal conseguisse adaptar o diâmetro do ramo para cumprir a tarefa com êxito.
A construção de ferramentas até então era tida até pouco tempo atrás, no mundo animal, como uma exclusividade dos primatas. Segundo o cientista, é errado pensar que os pássaros e outros animais apenas reproduzem comportamentos herdados como a construção do ninho. Em suas pesquisas ele descobriu que corvos mais selvagens produzem instrumentos ainda mais sofisticados do que aqueles criados em cativeiro.
Conforme explicou o pesquisador, embora os corvos da espécie Moneduloides Corvus sejam os únicos a demonstrarem tamanha capacidade, outras espécies demonstram uma inteligência "bastante versátil".
Alguns conseguem levar em conta a perspectiva de outros corvos para planejar suas ações. Eles são capazes de esconder a comida e quando percebem que outros colegas o viram escondê-la,eles a trocam de lugar assim que ele possível espertalhão sai de perto. E ainda mais surpreendente é o fato de que aqueles corvos que tomam mais precauções foram justamente os que já roubaram comida dos outros. Esse comportamento também não é bastante parecido com os dos humanos?
Combinando Várias Ferramentas
Um outro estudo realizado na Universidade de Oxford em 2009 já havia demonstrado que a inteligência dos corvos é realmente surpreendente.
Numa experiência que foi inclusive filmada sete corvos demonstram um comportamento bastante interessante: sem terem sido treinados para tal, elas conseguem executar uma sequência em que usam sucessivamente três ferramentas de tamanhos diferentes até conseguirem pegar o alimento.
Os autores do estudo chamam a atenção para o fato de que ainda que os corvos, ao utilizarem três ferramentas consecutivamente, superem a capacidade de qualquer animal não-humano, incluindo os primatas, este estudo realça a importância de ter-se cautela na comparação entre as capacidades cognitivas.
Um comportamento aparentemente bastante inteligente pode ser alcançado sem que isso implique necessariamente em um nível elevado de faculdades mentais. Há portanto a necessidade de uma análise bastante criteriosa e detalhada antes de aceitarmos que determinado teste demonstra uma maior capacidade intelectual de uma espécie.
Fontes e Vídeos disponíveis nos links abaixo:
http://www.ox.ac.uk/media/news_stories/2009/090805_1.html
http://sociedad.elpais.com/sociedad/2009/08/06/actualidad/1249509613_850215.html
Uma das fábulas de Esopo conta a história de um corvo que, estando morrendo de sede,encontrou uma jarra com um pouco d’água no fundo e, como não conseguiu alcançá-la com o bico, passou a colocar pedrinhas dentro do jarro. A água então subiu até um ponto em que foi possível ao animal bebê-la.
Até então, essa fábula de Esopo era interpretada como uma lição de moral, onde nos é transmitida a idéia de que as dificuldades da vida aguçam sobremaneira nossa inteligência.
No entanto, estudos recentes evidenciam uma interpretação bem mais direta: Ainteligência dos corvos se assemelha à inteligência dos seres humanos em sua etapa inicial da vida.
Isso ficou evidenciado nos resultados de estudos apresentados pelo professor Nicola Clayton e seus colegas do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Os pesquisadores constataram que os corvos e as crianças menores de oito anos resolvem o problema apresentado na fábula de Esopo com a mesma eficácia: na quinta tentativa.
Em defesa de nossa espécie temos que acrescentar que a partir da idade de oito anos as crianças resolvem o problema na primeira tentativa.
Ao aplicarem outro teste semelhante nos corvos, em que um verme era colocado na água no fundo de um jarro, as aves aplicaram a mesma técnica eficiente de colocar pedras no recipiente. Mas algo realmente intrigante aconteceu quando, ao invés de colocarem água, colocaram serragem no fundo do jarro. O animal parecia saber que colocar pedras no jarro para tentar trazer o verme até em cima não adiantaria nada e nem sequer tentou.
Ficou evidenciado que os corvos não resolvem o problema meramente por tentativa e erro.
Além disso, quando disponibilizaram pedras grandes e pequenas, os corvos escolheramas pedras maiores para ganharem tempo na tarefa. Os animais preferiram também utilizar as pedras de verdade, em vez de blocos de poliestireno colocados juntos às pedras. Os blocos de poliestireno, flutuam na água e seriam de pouco ou nenhuma utilidade para essa função.
Como o Poliestireno não existia na época que Esopo escreveu suas fábulas ou mesmo durante os séculos de evolução dos corvos, a decisão de optar por pedras de verdade corresponde a uma habilidade cognitiva e não seria apenas mero instinto.
Embora os corvos e as crianças pequenas mostrem-se similarmente eficazes na resoluçãode de certos problemas, a forma como eles aprendem parece bastante distinta. Isso pode ser verificado quando os cientistas deste estudo manipularam o teste de forma que a situação apresentada fosse impossível de acontecer no mundo real.Quando isso aconteceu, os corvos não foram capazes de usar a experiência que tiveram para aplicá-la em testes subsequentes. Eles parecem ter uma certa "compreensão" instintiva das leis da física, e as experiências que não se encaixam nessas regras não servem para aumentar os seus conhecimentos.
Já as crianças possuem uma forma mais prática de aprender: o que funciona, funciona, mesmo que ela não compreenda bem por que.
Estudos anteriores sobre a inteligência dos corvos
Uma espécie de corvo que habita a ilha de Nova Caledônia, no Oceano Pacífico, que possui o nome científico de moneduloides Corvus, é capaz de fabricar ferramentas complexas. O animal consegue utilizar galhos, folhas ou até mesmo arames, para construir instrumentos que lhe auxiliem a ter acesso a alimentos.
Segundo o pesquisador argentino Alex Kacelnik, essa espécie de corvo consegue realizar essa proeza "com mais precisão do que um primata". Ele é chefe do Departamento de Ecologia Comportamental da Universidade de Oxford, Reino Unido, e um dos biólogos que mais tem se dedicado a estudar esses animais.
Outro pesquisador, o zoólogo neozelandês Gavin Hunt, em 1996, já havia constatado essas habilidades surpreendentes dessas aves ao pesquisá-las em seu habitat natural, as florestas de uma ilha do arquipélago da Melanésia, no Oceano Pacífico.
Em 2006, cientistas da universidade de Oxford descobriram que esses corvos conseguem demonstrar essas mesmas habilidades quando mantidos também em cativeiro. Eles também conseguiram constatar que em corvos jovens esse comportamento é herdado.
Segundo Kacelnik declarou na época, "Eles mostram uma tendência natural para resolver problemas físicos, utilizando ferramentas". Além disso, esses animais teriam também a capacidade de aprender tanto com outros corvos quanto no contato com seus tratadores humanos. O resultado de suas pesquisas foram publicados na revista Science e Nature.
Num experimento registrado em vídeo, realizado por estes cientistas, é dada uma missão a uma fêmea de nome Betty,criada em cativeiro: ela tem que conseguir pegar comida num lugar de difícil acesso.
No experimento, o alimento foi colocado num pequeno cesto que tinha na parte superior uma alça. O cesto foi colocado na vertical num cilindro de forma que para conseguir obter o alimento o animal teria que puxar o cesto pela alça.
Depois de tentar colocar a cabeça no tubo sem conseguir alcançar a alça, Betty se fixa num pedaço de arame colocado perto pelos pesquisadores. Ela o pega com o bico e tenta introduzi-lo no tubo porém sem conseguir.
Então ela busca um ponto de apoio para uma das pontas do arame e, forçando com o bico, o entorta criando uma espécie de gancho. A ferramenta então é utilizada por ela para puxar a alça e o cesto obtendo o pedaço de carne como recompensa.
Segundo Kacelnik, esses animais "são capazes de conceituar os problemas, de entender em algum nível primitivo, talvez através de uma imagem mental". Ele classificou a habilidade de Betty como "capacidade de inferência lógica" pois o animal,diante de uma situação nova para ela, identifica um problema, cria um plano para solucioná-lo e o executa de forma adequada.
Em alguns casos, ela começou a usar o gancho criado com uma outra função: remover a carne da base onde estava presa.
Em outra experiência, Betty é colocada numa situação em que para acessar o alimento ela precisa usar uma ferramenta que passe por um orifício numa cobertura transparente.
Alguns galhos foram deixados propositalmente perto do animal para testar seu comportamento. Ela pega um dos galhos e tenta colocá-lo no orifício mas então constata que ele é muito grosso. Sem hesitar, ela passa a desbastar o galho com o bico para diminuir seu diâmetro.
Na primeira tentativa ela não consegue pois o galho continua ainda muito grosso.Mas ela então segue desgastando o galho com bico até que consegue fazê-lo ficar no diâmetro correto. Assim que o galho passa pelo buraco ela consegue obter o alimento.
O biólogo argentino chama a atenção para o que classificou como uma‘demonstração de raciocínio matemático na tomada de decisões. Isso foi fundamental para que o animal conseguisse adaptar o diâmetro do ramo para cumprir a tarefa com êxito.
A construção de ferramentas até então era tida até pouco tempo atrás, no mundo animal, como uma exclusividade dos primatas. Segundo o cientista, é errado pensar que os pássaros e outros animais apenas reproduzem comportamentos herdados como a construção do ninho. Em suas pesquisas ele descobriu que corvos mais selvagens produzem instrumentos ainda mais sofisticados do que aqueles criados em cativeiro.
Conforme explicou o pesquisador, embora os corvos da espécie Moneduloides Corvus sejam os únicos a demonstrarem tamanha capacidade, outras espécies demonstram uma inteligência "bastante versátil".
Alguns conseguem levar em conta a perspectiva de outros corvos para planejar suas ações. Eles são capazes de esconder a comida e quando percebem que outros colegas o viram escondê-la,eles a trocam de lugar assim que ele possível espertalhão sai de perto. E ainda mais surpreendente é o fato de que aqueles corvos que tomam mais precauções foram justamente os que já roubaram comida dos outros. Esse comportamento também não é bastante parecido com os dos humanos?
Combinando Várias Ferramentas
Um outro estudo realizado na Universidade de Oxford em 2009 já havia demonstrado que a inteligência dos corvos é realmente surpreendente.
Numa experiência que foi inclusive filmada sete corvos demonstram um comportamento bastante interessante: sem terem sido treinados para tal, elas conseguem executar uma sequência em que usam sucessivamente três ferramentas de tamanhos diferentes até conseguirem pegar o alimento.
Os autores do estudo chamam a atenção para o fato de que ainda que os corvos, ao utilizarem três ferramentas consecutivamente, superem a capacidade de qualquer animal não-humano, incluindo os primatas, este estudo realça a importância de ter-se cautela na comparação entre as capacidades cognitivas.
Um comportamento aparentemente bastante inteligente pode ser alcançado sem que isso implique necessariamente em um nível elevado de faculdades mentais. Há portanto a necessidade de uma análise bastante criteriosa e detalhada antes de aceitarmos que determinado teste demonstra uma maior capacidade intelectual de uma espécie.
Fontes e Vídeos disponíveis nos links abaixo:
http://www.ox.ac.uk/media/news_stories/2009/090805_1.html
http://sociedad.elpais.com/sociedad/2009/08/06/actualidad/1249509613_850215.html