Os Riscos da Prática de Ioga - Porque Não Fazer Ioga
Um artigo alertando para os riscos de lesões na prática de Ioga publicado no New York Times provocou uma grande polêmica entre os praticantes e em especial entre os professores de Ioga.
No texto de Sheila Glaser ela fala de uma entrevista que fez com Glenn Black, professor de Ioga por quase 40 anos na Sankalpah Yoga em Manhattan. Entre os alunos de Black estão várias celebridades e gurus de destaque. Black, que estudou em Pune, na Índia, no instituto fundado pelo lendário BKS Iyengar, passou muito tempo de sua vida meditando e praticando Ioga.
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Sheila o procurou não para saber as virtudes da prática de Ioga, até porque ela mesma já havia praticado algum tempo, mas principalmente para colher informações sobre os riscos de se causar danos à saúde com esses exercícios. Isso porque, ela já sabia de antemão que muitos dos clientes de Black são pessoas que vieram em busca de algum tratamento ou reabilitação devido a lesões contraídas na própria prática de Ioga.
No artigo, cujo link disponibilizo ao final deste post, ela conta como contraiu uma séria lesão nas costas após se submeter a exercícios de Ioga que ela praticava para justamente tentar obter a cura para dores que vinha sentindo. Ela relata que foi dessa forma que ela acabou com a idéia que tinha de que “a ioga era uma única fonte de cura e nunca o mal”.
Nas aulas ministradas por Black, ela relata que o professor não ensina algumas posições e posturas clássicas da Ioga, como plantar bananeira ou se manter pelos ombros porque nem todas pessoas seriam capazes de realizá-las sem correrem o risco de lesões. Mesmo exigindo que seus alunos mantenham algumas posições até próximo ao limite da dor, ele assim o faz com a intenção de conscientizar seus alunos a não exagerarem nos exercícios. Segundo lhe relatou o professor Glenn Black, na própria escola de Lyengar,na Índia ele teria presenciado um yogi se lesionar com uma torção da coluna cervical durante os exercícios.
Mas o que realmente surpreendente nas declarações do professor Black é ele acreditar que "a grande maioria das pessoas" deve desistir da Ioga completamente devido ao risco de lesões. Isso ocorreria porque muitas pessoas tem problemas de saúde ou algumas fraquezas físicas que os exporia a esse risco ao se esforçarem além dos seus limites. Segundo o professor citado na matéria de Sheila Glaser, seria mais interessante para essas pessoas fazerem exercícios voltados para fortalecer partes enfraquecidas de seus corpos como articulações e órgãos.
Uma das declarações polêmicas do professor Glenn Black, no artigo do NYT foi “Ioga é para pessoas em boas condições físicas, ou para ser usada terapeuticamente. Embora seja controverso, ela não deveria ser usada de forma generalizada.”
A respeito de seu próprio trabalho, na reabilitação de pessoas que tiveram lesões, ele reconhece que mesmo tendo estudo com o lendário Shmuel Tatz , um terapeuta de que inventou um método de massagem e alinhamento para atores e dançarinos, ele não teria o conhecimento formal necessário para determinar quais posições são boas para um estudante e quais poderiam resultar em problemas. Mas ele atribui o sucesso de seu trabalho a sua grande experiência.
Para Black, pessoas de diferentes origens tem limites diferentes. Um indiano já estaria acostumado com posições com as quais já conviveu a vida toda, mas pessoas que vivem de forma sedentária sentadas praticamente o dia todo estariam vulneráveis a lesões ao se submeterem a complexos exercícios uma vez por semana, desconsiderando sua falta de flexibilidade e seus problemas de saúde.
Na polêmica entrevista de Sheila Glaser com o professor Glenn Black, ele revela que mesmo alguns professores de ioga o procuram para se recuperarem de traumas sérios. Em muitos desses casos, Black os aconselha a não fazerem ioga.
Entre as lesões mais sérias que ele teria se deparado, ela citou professores de yoga bem conhecidos que forçaram tanto o corpo ao fazerem poses básicas, como a do cachorro olhando para baixo, em que o corpo forma um V invertido, que terminaram por romper os tendões de Aquiles. Ela citou também professores que passam a dar aulas deitados devido as limitações de movimento que contraíram devido aos excessos na prática de ioga.
Casos Graves de Praticantes de Ioga
No artigo do NYT, é citado que os primeiros relatos de lesões provocados pela prática de yoga teriam surgido há algumas décadas, conforme fora publicado em respeitáveis revistas como Neurology, The British Medical Journal e no The Journal of the American Medical Association. Esses periódicos relataram problemas que iam desde ferimentos leves até deficiências permanentes. Num dos casos um estudante teria passado por dificuldades até mesmo para caminhar devido a ter ficado diariamente na posição ajoelhada conhecida como vajrasana durante horas por dia. Seu problema só regrediu quando ele desistiu de repetir a posição que privava seu nervo ciático de receber oxigênio. Vários outros casos semelhantes e também outros problemas mais sérios ainda já teriam sido registrados. Um artigo de 1972 no The British Medical Journal, citou inclusive casos em que algumas posturas de yoga quase causaram acidentes vasculares cerebrais em pessoas jovens e saudáveis.
Tais problemas cerebrais poderiam ter sua origem nos movimentos que dobram o pescoço até 90 graus. O autor desse artigo teria alertado que movimentos extremos da cabeça e do pescoço podem lesar artérias vertebrais causando danos no cérebro.
Em 1973, outro renomado médico, Willibald Nagler, da Cornell University Medical College, publicou o caso de uma mulher de 28 anos que sofreu um derrame enquanto fazia uma posição de ioga conhecida como a roda ou arco para cima, onde a pessoa deita de costas e levanta o corpo em um arco equilibrando-se nas mãos e pés. Na sequência da posição, ao dobrar o pescoço para trás apoiada sobre a cabeça ela sentiu uma forte dor de cabeça subitamente. Levada ao hospital, ela apresentava paralisia em um dos lados, além de outros sintomas que teriam sido provocados por uma grande falha no fornecimento de sangue no cérebro além de várias hemorragias secundárias. Embora sejam consideradas raras, essas lesões servem de alerta ao se estender demasiadamente o pescoço, sobretudo para pessoas de meia-idade.
Num outro caso um jovem de 25 anos de idade, com sintomas como visão turva, dificuldade de engolir e dificuldade motora num dos lados do corpo foi atendido no hospital Northwestern Memorial, em Chicago. O paciente era bastante saudável e praticava yoga todas as manhãs durante um ano e meio. Ao fazer movimentos com o pescoço flexionado diretamente sobre o chão, mantendo-se assim por cinco minutos, ele teve um trauma na região cervical. Alguns exames revelaram bloqueios da artéria vertebral esquerda entre as vértebras c2 e c3, devido a ter sido obstruída quase que totalmente impedindo o sangue de chegar ao cérebro. O paciente se recuperou parcialmente ficando com sequelas para caminhar e fazer alguns movimentos. Os autores desse artigo teriam concluído indivíduos saudáveis poderiam prejudicar seriamente suas artérias vertebrais ao realizarem movimentos de pescoço que excedem a tolerância fisiológica na prática de Yoga.
O artigo do NYT também informa que o número de internações de emergência relacionadas a prática de ioga tem aumentado consideravelmente nos últimos anos nos Estados Unidos. Considerando que muitas pessoas não procuram o atendimento de emergência, vindo a consultar seus médicos ou terapeutas para tratar traumas sofridos na ioga, estes números podem ser ainda maiores. Casos de problemas realcioandos a prática de ioga tem sido cada vez mais frequentes na mídia.
Uma matéria do ‘The Times’ abordou os riscos do calor penetrante das Bikram yoga, que poderiam aumentar o risco de lesões nos músculos e nas cartilagens. A mesma matéria traz conclusões de especialistas quanto a lesões em ligamentos que ao serem demasiadamente esticados não recuperam sua forma aumentando o risco de distensões, entorses e luxações.
O editor médico do Yoga Journal, Timothy McCall, classifica certa posição da ioga em que a pessoa se apóia sobre a cabeça é muito perigosa e que lhe teria causado a síndrome do desfiladeiro torácico, uma condição que surge a partir da compressão de nervos que passam do pescoço para os braços, causando formigamento na mão direita, assim como dormência esporádica. Os sintomas só teriam parado quando ele decidiu não fazer mais essa posição. Ele teria observado que essa inversão poderia causar outras lesões, incluindo artrite degenerativa da coluna cervical e problemas visuais devido o aumento da pressão ocular causada pela pose.
O artigo do de Sheila Glaser vale realmente a pena ser lido, mesmo com o auxílio de um tradutor (caso você não tenha intimidade com a língua inglesa) pois ele fornece muitas informações valiosas sobre os riscos da prática de Ioga.
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