Ciência, Tecnologia, Vídeos, Curiosidades, Fotos, Medicina, Textos e Imagens de um mundo estranho
Aqui está um texto muito legal de Vinícius de Moraes, que eu considero um dos maiores gênios da literatura que já pisaram neste planeta.O texto que já estava semi-esquecido em minha memória cada vez mais fraca e eu recebi por e-mail outro dia de um amigo.Depois achei esse vídeo no Youtube e não resisti em publicá-lo aqui.O violão que é ouvido no fundo além e alguns vocalises são executados por Edu Lobo. fantástico. Profundo. Genial.Nesse mundo repleto de pressa e frivolidades permanentes, vale a pena parar,ler, escutar e refletir sobre este poema.O Haver - Vinicius de MoraesResta, acima de tudo, essa capacidade de ternuraessa intimidade perfeita com o silêncio.Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo.Perdoai: eles não têm culpa de ter nascido.Resta esse antigo respeito pela noiteesse falar baixoessa mão que tateia antes de teresse medo de ferir tocandoessa forte mão de homemcheia de mansidão para com tudo que existe.Resta essa imobilidadeessa economia de gestosessa inércia cada vez maior diante do infinitoessa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimívelessa irredutível recusa à poesia não vivida.Resta essa comunhão com os sonsesse sentimento da matéria em repousoessa angústia da simultaneidade do tempoessa lenta decomposição poéticaem busca de uma só vidade uma só morteum só Vinícius.Resta esse coração queimandocomo um círio numa catedral em ruínasessa tristeza diante do cotidianoou essa súbita alegria ao ouvir na madrugadapassos que se perdem sem memória.Resta essa vontade de chorar diante da belezaessa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendidoessa imensa piedade de si mesmoessa imensa piedade de sua inútil poesiade sua força inútil.Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhadode pequenos absurdosessa tola capacidade de rir à toaesse ridículo desejo de ser útile essa coragem de comprometer-se sem necessidade.Resta essa distração, essa disponibilidade,essa vagueza de quem sabe que tudo já foi,como será e virá a ser.E ao mesmo tempo esse desejo de serviressa contemporaneidade com o amanhãdos que não tem ontem nem hoje.Resta essa faculdade incoercível de sonhar,de transfigurar a realidadedentro dessa incapacidade de aceitá-la tal como ée essa visão ampla dos acontecimentose essa impressionante e desnecessária presciênciae essa memória anterior de mundos inexistentese esse heroísmo estáticoe essa pequenina luz indecifrávela que às vezes os poetas tomam por esperança.Resta essa obstinação em não fugir do labirintona busca desesperada de alguma portaquem sabe inexistentee essa coragem indizível diante do grande medoe ao mesmo tempo esse terrível medo de renascerdentro da treva.Resta esse desejo de sentir-se igual a todosde refletir-se em olhares sem curiosidade, sem história.Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho,essa vaidade de não querer ser príncipe senão do seu reino.Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormentoesse abandono sem remissão à sua voragem insaciável.Resta esse eterno morrer na cruz de seus braçose esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.Resta esse diálogo cotidiano com a morteesse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionada,ela virá me abrir a porta como uma velha amantesem saber que é a minha mais nova namorada.
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